Território Amapaense: Relato de uma ancestralidade viva
por Isabelly Guabiraba
Oi! Escrevo esse relato com a mais pura emoção e naturalidade. Nesse momento sentada no meu quarto, o lugar que mais tenho ficado durante essa pandemia...

Bem, falar de memória e interligar isso com território é um assunto muito delicado para mim. Eu sou Isabelly Ribeiro Guabiraba, tenho 23 anos e minha terra é o Amapá, sim o Amapá, o estado mais preservado do Brasil, que possui, na minha opinião, a visão mais amazônida do mundo! Mas que infelizmente não é visto, não é lembrado e não é ouvido, porque aqui voz a gente tem de sobra.

Tenho orgulho do meu lugar e vivo numa eterna vontade de ter nas mãos a mudança, a esperança de ter uma visão macro, a visão de que aqui não é só um bioma, a visão de que aqui existem pessoas, mas que são diariamente esquecidas. Como no caso do Apagão, sim, vou citar o Apagão, porque esse foi um impacto que precisa ser falado, ele nos destruiu, não consigo mensurar essa dor, não consigo classificar que tipo de impacto foi...

A minha memória não é uma construção individual, acredito que esse processo não pode ser! Nossas memórias são pedaços dos nossos ancestrais e eu vou interligar ela com minha ancestral viva, minha pessoa favorita, que se chama Maria da Conceição Guabiraba Ribeiro, mais conhecida como minha avó.

Maria da Conceição é uma mulher preta ribeirinha, nascida no Pará, mas que veio na adolescência para o Amapá e nunca escondeu suas origens. Vovó é mulher forte e sempre deixou vivo em mim a vivência de morar na beira do rio e de se sustentar com coisas do seu quintal, quintal esse que é a nossa floresta amazônica.

Desde criança sempre fomos muito amigas, a gente tem uma conexão muito forte. Vovó me contava sobre banhos de rios diários, frutas, caças, histórias de visagem e muito, muito conhecimento tradicional enraizado e é exatamente nesse ponto que minha história começa...

Eu nunca imaginei que todas as histórias que minha avó me contava fariam sentido de fato. Quando fiz 17 anos, consegui ingressar no curso de Engenharia Florestal na Universidade do Estado do Amapá e lá conheci a Iniciação Cientifica e acreditem, foi para trabalhar juntinho de uma comunidade tradicional ribeirinha, localizada no Arquipélago do Bailique, um distrito que fica a 12 horas da nossa capital Macapá. Nunca esqueço da minha primeira viagem, era lua cheia, céu estrelado e um vento no rosto que só quem anda no rio Amazonas pode sentir.

Minha memória é uma memória viva! Vovó é uma árvore grande que me fez semente e eu sigo no processo de germinar, germinar a luta por um território melhor, de falar e levar meu povo ao mundo. Meu território é minha terra, é meu Rio Amazonas, que é muito mais que água, ele é gente!

O AMAPÁ É RESISTÊNCIA, A GENTE SEGUE COM NOSSAS PRÓPRIAS MÃOS!!!